O Idoso na Sociedade Contemporânea
O envelhecimento da população no mundo de hoje não tem paralelo na história. O aumento percentual no número de pessoas idosas, com 60 anos ou mais, é
acompanhado pela queda no número de jovens com menos de 15 anos. Até 2050, onúmero de idosos no planeta excederá o de jovens pela primeira vez na história da humanidade (in Nações Unidas-2ª Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, Madrid, 2002).
O Mundo envelhecido em que vivemos atualmente é reflexo de grandes façanhas humanas,pelo que deve ser visto como uma vitória da Humanidade. Contudo, deve ser motivo de mudanças ao nível das mentalidades e das estruturas de apoio socialque vão ao encontro das necessidades dos idosos, para que estes se sintam plenamente integrados e possam participar na sociedade, de forma digna.
Segundo Martins (2006), "a sociedade contemporânea tida como sociedade de consumo, rege-se por valoresmateriais o que implica ter como principal objetivo a rentabilização da produção em que se privilegiam apenas os cidadãos ativos. O idoso sem autonomia é rapidamente excluído do trabalho, das funções de aquisição de produção, manutenção e transmissão de conhecimentos"
Face ao exposto, podemos afirmar que a velhice na nossa sociedade é uma fase da vida de certa forma discriminada, porque é associada a uma etapa do ciclo de vida inativa e, que pouco poderá contribuir para a sociedade em que vivemos que está ansiosa pela inovação.
De acordo com Martins (2006), deixámos de ter uma "elite de anciãos", para termos um simples conjunto de idosos, ou "massa de velhos". A afirmação elite de anciãos retrata-se a uma sociedade ancestral em que a esperança média de vida era reduzida e, na qual as pessoas que tinham a "sorte" de chegar à "velhice" eram vistas como pessoas com muito ensinamentos para oferecer às novas gerações. Hoje, a sociedade vive a um ritmo alucinante em termos de conhecimentos e facilmente os indivíduos ficam desatualizadas se não estiverem ativos, transformando o idoso num sujeito obsoleto.
Contudo, o novo perfil demográfico que se regista de forma cada vez mais acentuada nomundo e em particular nos países assumidos como desenvolvidos, levou a que a "velhice" tenha cada vez mais visibilidade.
Segundo, Silva, a velhice não pode ser entendida unicamente como um problema social resultante das modificações demográficas, mas sim como uma organização social e para tal a sociedade no todo deverá proceder a reestruturações. Ainda segundo a mesma autora, existem diferentes processos de exclusão das pessoas idosas, enquanto no Brasil a desigualdade de rendimentos leva a que o prolongamento da vida seja mais elevado nas camadas sociais mais altas, originando a discriminação das classes mais pobres e por consequência da população mais idosa que necessita de mais recursos sócio económicos. Nos países europeus a discriminação é originada pela falta de contatos sociais, ou seja pelo afastamento dessa faixa etária da sua participação efetiva na sociedade. Podendo afirmar-se que essa discriminação constitui um desrespeito pelos direitos humanos, pois se a humanidade tem investido tanto no feito grandioso que é o de prolongar o mais possível a longevidade do ser humano essa conquista (tão desejada noutras sociedades menos evoluídas) deveria ser efetiva na sua totalidade, ou seja, construir uma sociedade onde não só os recursos sócio económicos para as faixas etárias mais idosas fossem mais acessíveis e igualitários, mas também construiruma consciência social de promoção dos direitos humanos para todos, independentemente da idade, apoiada no princípio da dignidade humana. Contudo, muitas têm sido as iniciativas para garantir mais direitos às pessoas idosas.
De acordo com a ONU, em 1982 foi realizada a primeira Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, que produziu o Plano de Ação Internacional de Viena sobre o Envelhecimento, com ações para proteção dos idosos em questões como a saúde e nutrição, proteção de consumidores idosos, habitação e meio ambiente, família, bem-estar social, segurança de renda e emprego e educação. Mas, por exemplo o Brasil já em 1974 tinha homologado uma portaria (Ministério da Previdência e Assistência Social) para proteção das pessoas idosas. A Segunda Assembleia Mundial das Nações Unidas sobre o Envelhecimento foi realizada em Madrid e, este plano pedia mudanças de atitudes, políticas e práticas em todos os níveis para satisfazer as enormes potencialidades do envelhecimento no século XXI.
No entanto, as medidas estabelecidas nos Planos de Ação entendidas como fundamentais e promotoras de uma velhice mais digna, podem de alguma forma criar uma forma de discriminação natural, pela particularidade de se considerar essa classe etária como sujeitos diferentes em termos de capacidades e portanto necessitados de uma atenção "especial".
Também não podemos esquecer que a crise e austeridade dos dias de hoje surgem cada vez mais como entraves às soluções de envelhecimentos com qualidade de vida. As respostas precisam de vir também de um Estado que tem como um dos seus pilares fundamentais, a solidariedade e, por isso sem descurar a importância de todas as políticas públicas sociais até hoje implementadas para proteção dos mais velhos, como forma de permitir uma maior longevidade com saúde e autonomia, considera-se que formas de organização social, tais como, sindicatos, associações, cooperativas poderão representar novas dimensões de socialização, de interação e fortalecimento da ação do sujeito como forma de promover mudanças em prol de uma velhice verdadeiramente assumida (tanto pela sociedade como pelo próprio idoso) e detentora de todos os seus direitos enquanto ser humano.
De acordo com Constança Paúl (2005) a receita básica para os idosos do futuro, que procuram corresponder ao conceito de envelhecimento ativo: consiste num estilo de vida saudável, numa vida em segurança, e a participação social nas suas mais diversas formas que vão desde trocas interpessoais significativas até ao exercício dos direitos e deveres de cidadania, estendendo-se a participação às estruturas e associações, a favor do bem comum (cit. por Martins 2010 p.22). Por outro lado, também a educação pode constituir uma ferramenta basilar na construção de uma sociedade com mais consciência cívica, espírito interventivo e crítica perante atos de discriminação e de defesa dos direitos humanos, em particular dos mais carentes. Tal como refere Fernandes: "...não
basta ter que enfrentar desafios financeiros, intelectuais e políticos, ... terá que existir uma ação coordenada de investigadores, profissionais de campo, administradores e políticos para encontrar ações de amplo alcance cultural que se traduzam em ações educacionais e de assistência à saúde que favoreçam não só os idosos, mas toda uma população, contribuindo assim para uma diminuição das desigualdades sociais. É necessário que as universidades e os órgãos
de fomento à pesquisa reconhecerem que a velhice é uma realidade digna de investimentos intelectuais e financeiros, acolhendo os profissionais da área e definir um plano de prioridades relacionadas com a pesquisa e ensino nas diversas áreas da gerontologia" (vascofernandes.wordpress.com/segmentos-da-ciencia-do-envelhecimento).
Assim, conclui-se que é de todo o interesse que cada país pondere seriamente, sobre quais as ações sociopolíticas que devem ser abordadas e implementadas para potenciar um envelhecimento positivo da sua população. Essas políticas públicas e/ou privadas deverão permitir desenvolver ações mais próximas dos cidadãos idosos, serem capacitadoras da sua autonomia e independência, acessíveis e sensíveis às necessidades mais frequentes da população idosa e das suas famílias, de forma a minimizar custos, evitar dependências, humanizar cuidados e ajustar-se à diversidade que carateriza o envelhecimento individual
e o envelhecimento da população (Magalhães 2011).
Dulce Pereira Correia
BIBLIOGRAFIA
ALVES, Simone Silva- Envelhecer na Sociedade Contemporânea: Lugar de direitos?, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
MAGALHÃES, Pires Carlos, Fernandes, Adília, Antão, Celeste, Envelhecimento Ativo, Encontros Científicos Nacionais , Escola Superior de Enfermagem de Vila Real, 2011.
MARTINS, Mª Isabel -Capital Social, Envelhecimento ativo e Dinâmicas de Liderança, Instituo Superior de Ciências Sociais e Políticas, Lisboa, 2012).
Nações Unidas-2ª Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, Madrid, 2002.
VASCOfernandes.wordpress.com/segmentos-da-ciencia-do-envelhecimento, consultado em 11-03-2014.
www.onu.org.br/a-onu-em-acao/a-onu.../a-onu-e-as-pessoas-idosas/(parágrafo19), consultado em 10-03-2014.